domingo, 19 de agosto de 2012

Tentando Elucidar a Dinâmica do Atraso do Nordeste – Uma Abordagem Crítica Sobre a Ideologia Reinante Tomando o Caso da Paraíba

Quando criança, ouvi de um desses agentes de saúde pública da prefeitura que andam de casa em casa uma afirmação que muito me impressionou. Ele tinha chegado à minha casa a trabalho e no contexto de uma conversa cujo conteúdo não lembro, disse que “nunca tinha encontrado tanta gente ruim e ignorante como na Paraíba”. Ele falou isso com alguma mágoa. Certamente não era paraibano aquele cidadão. No momento, não consegui interpretar aquilo. Mas hoje já consigo tecer algumas hipóteses para a explicação desse episódio.
Parto da constatação da discriminação histórica que sofre o Nordeste brasileiro e, dentro dele, a Paraíba especificamente (lugar onde moro). A Paraíba nunca foi referência dentro do Brasil e nem mesmo dentro do próprio Nordeste. Afinal, já fomos discriminados até mesmo por pessoas de estados vizinhos. Quando digo que “não somos referência”, quero dizer que os nossos comportamentos normalmente não são ditados por normas internas, mas sim, são tomados os modelos padronizados de fora (que ditam o nosso agir), no nosso caso, do Sudeste e também de países centrais (mas me detenho apenas ao Brasil).
Acredito que isso deve levar as pessoas da Paraíba a rejeitarem não apenas o seu espaço habitado, mas também os seus concidadãos. Mas antes de tudo, esses paraibanos rejeitam a si próprios. Se eu não me aceito, não consigo aceitar os outros! Os paraibanos não se sentem representados, fazendo com que se sintam não pertencentes à História. Esse é, na verdade, um forte domínio ideológico.
Eu mesmo não me revolto quando ouço comentários xenofóbicos contra o Nordeste vindos de paulistas ou cariocas. A minha preocupação é a respeito dessas pessoas que se irritam com isso! Sim, pois acredito que essas pessoas do próprio Nordeste estão dominadas ideologicamente e reproduzem tais preconceitos. Elas têm preconceito de si mesmas. Elas tomam como referência essas idéias vindas de fora do Nordeste e, desse modo, não conseguimos construir a nossa própria identidade. Ou seja, não sabemos quem somos! Elas rejeitam a si mesmas, aos seus concidadãos e o espaço em que habitam. Não conseguem dar significado ao seu próprio espaço.
O funcionário de quem ouvi que repudiava a tremenda ignorância dos paraibanos que o atendiam estava com a sua razão. Não o repreendo. As pessoas devem aprender a dar significado ao espaço que povoam. Antes de nos revoltarmos contra a mentalidade dos preconceituosos do Sudeste e de tentar modificá-la, deveríamos procurar modificar a nós mesmos, a nossa própria mentalidade e, enfim, perguntarmos qual o significado que damos à nossa região. Porém, isso não acontece na Paraíba! E acredito que podemos estender essa mesma avaliação para todo o Nordeste brasileiro.

Marcos Antônio Avelino Soares