sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Importante Diferença entre Analisar e Sintetizar

Pensar é analisar e sintetizar, separar e unir. Esse jogo de operação mental estimula o pensar. O pensamento atual acentua demasiadamente a análise. Em busca de equilíbrio, cabe insistir na síntese, na ligação entre os pensamentos, num pensar inclusivo, na percepção das implicações mútuas entre as idéias, nas relações inter-retro-para-frente. Favorece as operações mentais de ligação, conjunção, inclusão, implicação, síntese, e não tanto de separação, de diferenciação, de oposição, de seleção, de exclusão, de acumulação, de análise.
A inteligência analítica procura perceber em que uma realidade não é outra. Assim, quando pensa, por exemplo, a relação entre política e fé, num primeiro momento analítico distingue uma da outra. A política visa ao poder. A fé à salvação. A política pensa como conquistar ou manter poder, e para isso analisa todas as realidades sob este ângulo. A fé situa-se diante de uma Palavra transcendente a ser acolhida. E esta revela o mistério de Deus em sua relação conosco. E assim poderíamos ir avançando a análise.
A inteligência sintética tenta recuperar dessas análises os pontos de comunhão, de aproximação. Consegue ver como a política e a fé se encontram numa busca comum da felicidade do ser humano, da construção de uma sociedade justa e fraterna sob prismas diferentes. Na diferença, há uma igualdade radical. Ter a capacidade de encontrá-la revela esse lado inclusivo da inteligência. Na análise, um não é o outro. Na síntese, um é o outro, embora sob perspectivas diferentes.

A Arte de Formar-Se. João Batista Libanio. Edições Loyola, 2001. Pág. 28-29.

A TFP E A IGREJA CATÓLICA



A TFP não é um movimento religioso católico, embora seus membros sempre façam questão de se apresentar como católicos. E, até mais do que isso, se julguem os autênticos e os praticantes do verdadeiro catolicismo. Por sua própria definição, a TFP é a “Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade”. Foi fundada pelo professor Plínio Correa de Oliveira, inspirada na Cavalaria Medieval e tinha entre suas finalidades primeiras “combater, por vias pacíficas e legais, a expansão do comunismo internacional”. É uma sociedade civil, formada por sócios e cooperadores. Dentro da sua Defesa da Tradição, muito cedo ela entrou em conflito com os princípios e com a linha de renovação do Concílio Vaticano II, opondo-se principalmente às mudanças que foram introduzidas na vida da Igreja e na Liturgia pós-conciliar, rejeitando movimentos e condenando pastorais reconhecidas e eficializadas pela Igreja. Atendendo aos apelos do Concílio, a Igreja, no Brasil, através da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), assumiu um profundo compromisso com o homem da terra, os lavradores, suas associações e lutas. A TFP opõe-se a esse compromisso e uma das pastorais mais hostilizadas por ela foi, justamente, a CPT (Comissão Pastoral da Terra). A tudo isso se acrescente o caráter esotérico e o fanatismo religioso da entidade. Tais fatos levaram a Assembléia da CNBB de 1985 a reconhecer que não havia comunhão da TFP com a Igreja no Brasil, sua hierarquia e nem mesmo com o papa. E, assim, em abril de 1985, a CNBB, em nota oficial, passou a desaconselhar os católicos a ingressar na TFP e a colaborar com ela. Mais recentemente, após a morte do professor Plínio, houve uma dissidência na TFP e surgiu um novo grupo, a “Associação Cultural Nossa Senhora de Fátima”, que, ao menos, busca uma aproximação com a Igreja. Seus métodos e princípios ainda trazem muito do aprendido com a TFP, mas eles dizem estar a “serviço da nova evangelização”.
Isso, porém, é outro assunto! Estar em comunhão com a Igreja não é simplesmente vestir uma roupagem e ter um belo discurso. É necessário viver plenamente o Evangelho e partilhar a vida com os irmãos, especialmente com os menos favorecidos e os mais pobres.

(Escrito por frei Anacleto Gapski, OFM, para a Revista Família Cristã – Maio/2001)

domingo, 19 de agosto de 2012

Tentando Elucidar a Dinâmica do Atraso do Nordeste – Uma Abordagem Crítica Sobre a Ideologia Reinante Tomando o Caso da Paraíba

Quando criança, ouvi de um desses agentes de saúde pública da prefeitura que andam de casa em casa uma afirmação que muito me impressionou. Ele tinha chegado à minha casa a trabalho e no contexto de uma conversa cujo conteúdo não lembro, disse que “nunca tinha encontrado tanta gente ruim e ignorante como na Paraíba”. Ele falou isso com alguma mágoa. Certamente não era paraibano aquele cidadão. No momento, não consegui interpretar aquilo. Mas hoje já consigo tecer algumas hipóteses para a explicação desse episódio.
Parto da constatação da discriminação histórica que sofre o Nordeste brasileiro e, dentro dele, a Paraíba especificamente (lugar onde moro). A Paraíba nunca foi referência dentro do Brasil e nem mesmo dentro do próprio Nordeste. Afinal, já fomos discriminados até mesmo por pessoas de estados vizinhos. Quando digo que “não somos referência”, quero dizer que os nossos comportamentos normalmente não são ditados por normas internas, mas sim, são tomados os modelos padronizados de fora (que ditam o nosso agir), no nosso caso, do Sudeste e também de países centrais (mas me detenho apenas ao Brasil).
Acredito que isso deve levar as pessoas da Paraíba a rejeitarem não apenas o seu espaço habitado, mas também os seus concidadãos. Mas antes de tudo, esses paraibanos rejeitam a si próprios. Se eu não me aceito, não consigo aceitar os outros! Os paraibanos não se sentem representados, fazendo com que se sintam não pertencentes à História. Esse é, na verdade, um forte domínio ideológico.
Eu mesmo não me revolto quando ouço comentários xenofóbicos contra o Nordeste vindos de paulistas ou cariocas. A minha preocupação é a respeito dessas pessoas que se irritam com isso! Sim, pois acredito que essas pessoas do próprio Nordeste estão dominadas ideologicamente e reproduzem tais preconceitos. Elas têm preconceito de si mesmas. Elas tomam como referência essas idéias vindas de fora do Nordeste e, desse modo, não conseguimos construir a nossa própria identidade. Ou seja, não sabemos quem somos! Elas rejeitam a si mesmas, aos seus concidadãos e o espaço em que habitam. Não conseguem dar significado ao seu próprio espaço.
O funcionário de quem ouvi que repudiava a tremenda ignorância dos paraibanos que o atendiam estava com a sua razão. Não o repreendo. As pessoas devem aprender a dar significado ao espaço que povoam. Antes de nos revoltarmos contra a mentalidade dos preconceituosos do Sudeste e de tentar modificá-la, deveríamos procurar modificar a nós mesmos, a nossa própria mentalidade e, enfim, perguntarmos qual o significado que damos à nossa região. Porém, isso não acontece na Paraíba! E acredito que podemos estender essa mesma avaliação para todo o Nordeste brasileiro.

Marcos Antônio Avelino Soares  

sábado, 28 de julho de 2012

Considerações Sobre o Tempo

O tipo de relação que temos hoje com o tempo pode ser exemplificado com a “Linha do Tempo” do Facebook. Nesse aplicativo, o internauta pode ir para frente e para trás no tempo a qualquer momento que quiser, a seu bel prazer. E o Facebook se tornou, de fato, a rede social preferida entre os internautas, dado o seu dinamismo, possibilitando que o usuário “viva” em tempo real, fazendo-os interagir de maneira mais direta e eficaz com seus amigos (reais e virtuais).
Segundo o teólogo jesuíta João Batista Libanio, a internet nos dá a ilusória sensação de estarmos o tempo todo em todas as partes do planeta. Ou seja, a internet pode nos levar a crer que somos onipresentes, uma característica apenas atribuída a Deus.
Nesse ponto, podemos dizer que o indivíduo deseja inconscientemente não sentir o tempo passar, como se o tempo simplesmente não existisse. No livro A Peste, o escritor Albert Camus (1913-1960) diz que a única maneira de não se perder tempo é senti-lo intensamente, através de hábitos como “passar os dias na sala de espera de um dentista, numa cadeira desconfortável; viver as tardes de domingo na varanda, ouvir conferências numa língua que não se compreende; escolher os itinerários de trem mais longos e menos cômodos e viajar de pé, naturalmente; fazer fila nas bilheterias dos espetáculos e não ocupar o seu lugar, etc.” É exatamente isso que nossos contemporâneos querem evitar! Não queremos sentir o tempo passar!
A estrutura do Facebook, por exemplo, pretende encerrar a vida do sujeito dentro de sua “Linha do Tempo”, como se toda a sua existência estivesse ali concentrada, condicionando, muitas vezes, os seus usuários a esse tipo de rede.
Antes da Idade Moderna, o tempo era vivenciado de maneira totalmente diferente ao que é hoje. A conquista do espaço era o mais importante, não importando o tempo necessário para isso. O tempo que as caravelas de Cabral demoraram, por exemplo, para chegar ao continente americano não era o essencial, mas sim a conquista desse novo espaço era o que importava!
Hoje vemos estranhas relações com o tempo, como a ensinada pela doutrina espírita da reencarnação. Curioso é perceber que os dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados recentemente mostram que o espiritismo no Brasil é uma prática religiosa tipicamente da classe média e da classe rica. A conclusão mais óbvia que se pode extrair desse dado é que a classe de maior poder aquisitivo acredita que nascerá novamente na Terra após a sua morte para continuar usufruindo das riquezas criadas pelo nosso modo de produção.
Como escreveu o teólogo acima citado, a fé na reencarnação parece satisfazer o desejo de o indivíduo usufruir das coisas que não conseguiu usufruir em vidas pregressas, dada a enorme variedade de produtos e vivências que o sistema de produção oferece. Isso vem corroborar a evidência de que, na atualidade, o peso das tradições sobre cada sujeito é muito menor hoje que no passado, possibilitando que as pessoas se sintam livres para experimentar de tudo (tudo mesmo!) o que lhes são oferecidas pelo jogo do mercado!
Nesse caso, uma vida apenas é considerada muito breve, não sendo o suficiente para que cada pessoa desfrute de tudo o que há no mundo!
    
Marcos Antônio Avelino Soares.